Reflexões sobre um mundo organizacional pós-pandemia

Daniel Motta

Nessas últimas semanas de isolamento social, as empresas têm discutido bastante seus planos de contingência – como colocar as pessoas seguras em casa, como trabalhar as questões de vulnerabilidade social dentro e fora da organização, como cuidar da segurança patrimonial e cibernética, entre outras questões. A grande, pergunta, porém, é: Como será a volta? O que espera as organizações no pós-pandemia?

Sócio e CEO da BMI Blue Management Institute, Daniel Motta enxerga cinco aspectos que serão relevantes no pós-pandemia. O primeiro deles é o redesenho das organizações, que perceberam que é possível realizar tanto quanto antes com estruturas menores, mais enxutas e colaborativas, menos hierárquicas e com menos camadas de controle.

Alguns novos paradigmas também passarão a balizar as relações de trabalho. Sem falar de legislação, esses novos paradigmas combinam trabalhos cada vez mais por jornadas e não por processos; trabalhos cada vez mais fluidos e não hierárquicos por job description; e trabalhos em ecossistemas e menos baseados em especialistas. Em resumo, um mundo do trabalho mais colaborativo, integrado e focado em missões. “Isso não é uma novidade, mas é algo que deve se intensificar porque a gente está trabalhando nesse modus operandi e vendo que funciona”, observa Motta.

O terceiro aspecto é o conceito de valor compartilhado, menos focado na entrega do resultado do mês ou trimestre. Algo que vem sendo percebido durante a pandemia, com o aumento do altruísmo, da solidariedade e da filantropia e, no mundo corporativo, com as ações de responsabilidade social, que, de fato, buscam cuidar dos vulneráveis.

O quarto aspecto é preocupante. Motta enxerga maior vulnerabilidade mental e emocional das pessoas. Já vivíamos em uma sociedade muito doente mentalmente, com a ansiedade, depressão e Síndrome de Burnout sendo importantes causas de absenteísmo nas empresas. Isso só aumentou, e tende a aumentar, com esse período muito opressor que estamos vivendo.

Por fim, a questão da individualidade, que era muito cara no mundo Ocidental, muito preservada e valorizada, está deixando de ter tanta importância na medida em que a sociedade convida o governo para cuidar mais da vida dela, por exemplo, por meio do monitoramento de saúde.

E como devem ficar as lideranças?

Motta também enxerga essa agenda de retorno com mudanças para as lideranças. Uma das mais importantes é o convite à integridade. Os princípios de compliance, governança, risk management serão muito importantes para evitar que as pessoas ultrapassem a linha do ético, do íntegro, por viverem uma crise extrema. Para ele, quem passar pela crise preservando a integridade da organização, nas relações com fornecedores, clientes, governo e colaboradores, sairá mais forte.

A segunda mudança importante para as lideranças é a humildade, pois hoje todos estamos frágeis em casa, fazendo e dividindo afazeres domésticos. Aquela persona corporativa dos escritórios, salas de reunião e restaurantes foi desconstruída. Já a terceira é o cuidado com as pessoas ao mesmo tempo que o líder tem a coragem para tomar decisões difíceis.

“Uma liderança que se abstém de tomar decisões difíceis não é uma liderança. Liderar na bonança, quando sobram recursos para todos, é mais fácil. Tomar decisões duras, como demissões, redução da jornada e de benefícios, e mesmo assim da forma mais acolhedora possível, é um exercício muito importante”, reflete Motta, que completa: “Quem escolhe estar numa posição de liderança não tem como alternativa desistir. A liderança precisa ser um fio condutor para a jornada”.

As outras duas mudanças são a expansão do olhar, o tirar o olhar do próprio umbigo; e a adaptabilidade, pois estamos vivendo algo que ninguém nunca viveu. Portanto, aqueles que se adaptarem melhor vão sair melhor. Na avaliação de Motta, um convite para revisarmos nossas crenças, dogmas e paradigmas. “A crise é um bom momento para desafiar paradigmas e crenças que não funcionam mais e desafiam a organização.”

Ao lado de Charles Krieck, presidente da KPMG no Brasil e na América do Sul, Daniel Motta participou do webinar Capital Humano Pós-Pandemia e o Papel da Liderança, que foi realizado pela ABRH-SP em 24 de abril, com a moderação de Luiz Eduardo Drouet, diretor de Expansão das Regionais da Associação e CEO da Share RH. Assista a este e outros webinars no canal da ABRH-SP no YouTube.

Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP – 04 de Maio de 2020

ABRH-SP

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